Um pico de vento com velocidade de 40 nós (ou seja, bem forte) impulsionou nosso barco no Pacífico Sul e finalmente nos conduziu à Ilha de Páscoa, o ponto final de nossa viagem com o projeto 5 Gyres, que pesquisa a poluição do oceano por resíduos plásticos.
Nossa chegada a uma das porções habitáveis de terra mais isoladas do mundo (a mais de 3.700 quilômetros de distância do continente mais próximo e a 2590 quilômetros da ilha habitável mais próxima) foi cheia de glamour.
Ancoramos em Anakena, praia com areia branca e água azul turquesa, daquelas que vemos em fundos de tela de computadores. No entanto, não demorou muito para encontrarmos sinais antigos e recentes do impacto humano sobre esse lugar incrível.
A primeira coisa que se nota na Ilha de Páscoa é que quase não há árvores nativas. A razão conhecida por grupos ambientalistas e frequentemente usada para abordar os efeitos devastadores do desmatamento: os Rapa Nui possuíam uma floresta suntuosa, graças ao solo fertilizado por cinzas vulcânicas e ao clima temperado. Mas cortaram as árvores para obter lenha, construir canoas e transporte para carregar as gigantescas estátuas Moai, erigidas em vários pontos da ilha.
Segundo um artigo publicado em 1995 na revista Discover (http://www.hartford-hwp.com/archives/24/042.html), o processo foi acelerado por uma infestação de ratos que roeram as sementes das árvores, dificultando sua reprodução.
Sem árvores, as aves nativas, encarregadas de polinizar flores e dispersar sementes, também desapareceram. Os habitantes da ilha tiveram dificuldades para continuar construindo canoas de pesca, e acabaram consumindo a vida marinha nas praias.
Ainda que alguns estudos sugiram que os nativos tentaram se adaptar, desenvolver práticas sustentáveis e até recuperar a fertilidade do solo (http://www.sciencedaily.com/releases/2009/02/090218095435.htm), uma volta pela ilha prova que não tiveram sucesso. As montanhas e planícies desnudas são interrompidas por pequenas áreas cobertas por árvores frutíferas e eucaliptos, que parecem deslocadas do entorno.
Centenas de anos depois deste processo (que, aparentemente, marcou o fim da civilização Rapa Nui), a Ilha de Páscoa sofre outro tipo de destruição, desta vez, nas praias.
Após a nossa chegada, os fundadores do 5 Gyres, Marcus Eriksen e Anna Cummins, junto com um grupo de tripulantes da expedição, percorreram praias cheias de plástico, uma poluição que chega com as ondas do mar.
Como mencionamos em artigos anteriores, as praias funcionam como redes naturais para a contaminação plástica dos “giros” do oceano. Por causa das correntes marítimas, materiais de pesca e todo tipo de produtos plásticos chegam à areia ou às costas rochosas, que filtram a água e deixam o lixo na superfície. Alguns são grandes o suficiente para serem coletados, mas outros são muito pequenos e acabam se misturando com a areia.
Com o objetivo de colaborar com a limpeza da ilha e conscientizar a população, o 5 Gyres se reuniu com as autoridades de Rapa Nui, às quais entregou uma amostra de partículas de plástico recolhida no Pacífico Sul. A equipe também organizou uma limpeza das praias, encontrou-se com a imprensa local e também apresentará palestras em uma escola.











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